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06.07.2018
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Palavras de Isabel Alçada, atual Assessora para a Educação da Presidência da República, no âmbito do IX Encontro de Língua Portuguesa nos Primeiros Anos de Escolaridade, das II Jornadas Internacionais de Leitura, Educação e Sucesso Escolar e IV Jornadas Internacionais de Alfabetização que decorreu a 6 e 7 de julho, na Escola Superior de Educação de Lisboa (ESELx), onde deu aulas a partir de 1985.

Na sessão de abertura, aquela que é considerada uma das autoras mais lidas em Língua Portuguesa, alertava para a importância da leitura e da escrita, não só a nível escolar, mas para o desenvolvimento da sociedade. Isabel Alçada mencionou estudos que realçam o impacto que a literacia tem no desenvolvimento económico. A escritora reconheceu ainda que, em Portugal, há muitas crianças e jovens que não alcançam o patamar desejado no desempenho da leitura e a situação desfavorável do nosso país em relação aos adultos. A autora enfatizou a relevância do trabalho de formadores e investigadores no campo da literacia, ainda que reconheça que muitos, não disponham de informação que lhes permita ministrar uma formação sustentada. "O conhecimento científico é o caminho mais seguro para podermos trabalhar bem", referiu Isabel Alçada.

Elmano Margato, presidente do IPL

Na sessão de abertura do encontro esteve presente Elmano Margato, presidente do Politécnico de Lisboa, que para além das boas vindas aos participantes,  enalteceu o trabalho da Escola Superior de Educação de Lisboa, e em particular de Otília Sousa, docente da instituição e uma das responsáveis pelos Encontros. Aos participantes disse ser uma "oportunidade para trabalhar experiências, aproximar povos e instituções e trabalhar para uma sociedade mais desenvolvida".

Cristina Loureiro, presidente da ESELx, deixou um especial reconhecimento por todo o trabalho desenvolvido pelo grupo de professores de Língua Portuguesa, que culminou com a realização deste triplo encontro associado a organizações internacionais.
Encontro ESELx

No painel de abertura da iniciativa, esteve Elsa Maria Conde, uma das atuais responsáveis pela aplicação do Plano Nacional de Leitura, que ressaltou, na sua intervenção, a importância da leitura e da escrita, matéria que considera uma das mais importantes da atualidade. "A leitura, hoje, não é só a literária e informativa, mas tornou-se muito diversificada, muito exigente", referiu, ao falar do relançamento do Plano Nacional de Leitura, iniciado em 2006, que chegou ao fim em 2016 e retomou em 2017. No atual programa estão pensadas duas ações,  referiu Elsa Conde, uma que passa pela necessidade de aproximar a ciência à prática pedagógica, projeto financiado pela Fundação Belmiro de Azevedo e a Leitura Vai e Vem, que passa pela colocação de material de leitura na sala e aula e nas famílias, a fim de facilitar o acesso a estes recursos.

Os três encontros: IX Encontro Língua Portuguesa nos primeiros anos de escolaridade: investigação e boas práticas; III Jornadas Internacionais de Leitura, Educação e Sucesso Escolar e IV Jornadas Internacionais de Alfabetização, partiram de uma organização conjunta do Politécnico de Lisboa, da Universidade do Minho, da Universidade Federal de Rio Grande do Norte, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/PUCRS e da Universidade Federal de Pernambuco. Da comissão científica fizeram parte docentes e investigadores de instituições de ensino superior portuguesas, brasileiras e espanholas.

Do programa dos dois dias, fizeram parte quatro conferências dos oradores principais, para além de sessões paralelas com apresentação de comunicações e paineis de debate.

 Chloë Marshall

"A língua é uma fundação para a literacia"
Chloë Marshall
, apresentou a primeira conferência com o título: "processo cognivo que envolve a linguagem e aplicação de literacia e implicações para a educação". A conferencista começou a carreira como professora de crianças dos 2 aos 6 anos. Atualmente, é docente de Psicologia, Linguagem e Educação da UCL Institute of Education, onde lidera um mestrado em Neurociências. O seu foco de investigação são as crianças com dificuldades de linguagem e literacia e ctrianças surdas. Para a investigadora, as competências de linguagem são essenciais para a aquisição de tudo o que as crianças têm de aprender na escola. "Para ensinarmos bem literacia, é necessário saber os processos cognitivos de aprendizagem", adiantou. Chloë Marshall terminou a sua intervenção alertando para a importância das diferenças na linha do tempo de aprendizagem das crianças.  

Justino Magalhães

Cultura escolar e formação leitora: Perspetiva histórico-pedagógica
Justino Magalhães, foi o orador da segunda conferência do primeiro dia dos encontros. O historiador da Educação é Professor Catedrático do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, nos domínios de investigação e publicação: História da Educação; História da Educação e da Escolarização; História da Alfabetização; História do Livro Escolar; História das Instituições Educativas; História do Local e do Município Pedagógica.

Emilio Sanchez 

"O que necessitam os professores para ajudar os alunos?"
Foi a questão deixada por Emilio Sanchez Miguel, Catedrático de Psicología da ducação da Universidad de Salamanca. O investigador espanhol fez um enfoque na importância da compreensão de textos, como a competência que deveria ser alargada a toda a população. "Para ser um bom leitor é necessário muito tempo", justificou o docente, acreditando que, o que é pedido às crianças dos 4 aos 10 anos "é tremendo". Emilio Sanchez deixou claro que, "o que não replicamos não existe".

Alina Spinillo 

"A linguagem escrita não é natural, foi criada, alguém tem que informar como fazer"
A última conferência do programa, decorreu com a oradora Alina Spinillo, graduada em Psicologia, mestre em Psicologia Cognitiva pela Universidade Federal de Pernambuco, doutorada em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade de Oxford, Inglaterra e pós-doutorada pela versidade de Sussex, Inglaterra. É Professora Titular do Departamento de Psicologia e da Pós-Graduação em Psicologia Cognitiva da Universidade Federal de Pernambuco.

Alina abordou o papel do outro na revisão de textos escritos por crianças, considerando revisão como "qualquer alteração, a qualquer momento do processo de escrita (Fitzgerald, 1987)". A mensagem principal da conferencista assentou no facto do texto ser algo mutável, ainda que os professores tenham a ideia, errada, e a transmitam à criança, de que quando um texto está escrito, não pode ter alterações. Para a docente, a escrita da criança muda muito quando lhe é dito quem é o leitor do texto, porque "o texto só existe porque um outro o recebeu", concluiu. "As crianças têm uma habilidade sociocognitiva para coordenar a escrita com o possível leitor", referiu Alina Spinillo, ao apresentar os dados de um estudo académico que realizou no Brasil.

Texto de CS/GCI
Fotos de CS/GCI e ST/ESELx