Passar para o conteúdo principal

Energia nuclear: docente do ISEL esclarece situação na Ucrânia

Image
Pedro Ferreira

Pedro Miguel Ferreira, docente do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL), tem sido presença assídua nos meios de comunicação social. A situação na Ucrânia, em particular, o ataque ao Instituto de Física e Tecnologia de Kharkiv, onde existe um reator e à Central de Zaporizhzhia, a maior da Europa, abre portas a uma possível guerra nuclear, que fez disparar os alarmes um pouco por todo o mundo.
 
Para o Físico e especialista no funcionamento de reatores nucleares, o perigo de um incidente nuclear é baixo. Ainda que a central de Zaporizhzhia tenha sido tomada pelo exército russo, Pedro Ferreira explica que continua a ser operada pela equipa de trabalhadores habitual. “A Agência Internacional de Energia Atómica tem emitido comunicados em que considera, com algumas preocupações e reservas, que não se está numa situação de perigo”, refere.  

Quando questionado sobre a possibilidade de estarmos perante a ameaça de uma guerra nuclear, o docente é perentório: “não de todo”. “Todas as acções militares têm sido com forças convencionais. A presença de reactores nucleares, e a sua tomada pelo exército russo, não pode ser interpretada como uma tentativa de usar armas nucleares, antes sim um objetivo estratégico”. Pedro Ferreira explica que a Central de Zaporizhzhia assegura 25% do absatecimento energético da Ucrânia, o que justifica a importância para o seu controle.

 

Image
Pedro Ferreira na CNN

 

Na comunidade científica, nomeadamente quanto aos colegas russos, dos poucos contactos que tem tido, Pedro Ferreira refere haver muitos que se opõem à invasão da Ucrânia. Refere mesmo ter sido assinada uma carta por centenas de cientistas de nacionalidade russa, com uma declaração contra esta guerra. “Mas haverá muitos outros, imagino, que a apoiam, um reflexo de divisões na sociedade russa”, diz o investigador.

Numa altura em que se fala tanto da dependência do petróleo e das consequências ambientais que acarreta, o docente do ISEL, explica que a energia nuclear é um tipo de energia, em que as emissões de carbono são, “manifestamente, inferiores às da energia obtida com combustíveis fósseis”. No entanto, o Físico, explica, tratar-se de uma energia que “acarreta a produção de resíduos radioativos, que têm de ser armazenados em segurança durante milhares de anos”. Isto significa que, em caso de acidente nuclear, “as consequências para o meio ambiente podem ser graves”. Por tudo isto, Pedro Ferreira não consideraria a energia nuclear como uma “energia verde, com a ressalva que todas as formas de produção energética têm uma pegada de carbono associada”.

Pedro Ferreira é especialista no funcionamento de reatores nucleares. Licenciado em Física, pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, tem mestrado em Altas Energias e Gravitação, e doutoramento em Física de Partículas Teórica, pela Universidade de Liverpool. Passou por Génova, Dublin e novamente pela Faculdade de Ciências, para obter os três pós-docs. Está há 15 anos no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, no Departamento de Física, onde ensina Mecânica, Termodinâmica e Eletromagnetismo, Física Médica e Energia Nuclear. Esta última unidade curricular é lecionada no ISEL desde 2009.

Texto de CSS/GCI IPL
Imagens: Observador e CNN