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12.03.2022
Pedro Ferreira

Pedro Miguel Ferreira, docente do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL), tem sido presença assídua nos meios de comunicação social. A situação na Ucrânia, em particular, o ataque ao Instituto de Física e Tecnologia de Kharkiv, onde existe um reator e à Central de Zaporizhzhia, a maior da Europa, abre portas a uma possível guerra nuclear, que fez disparar os alarmes um pouco por todo o mundo.
 
Para o Físico e especialista no funcionamento de reatores nucleares, o perigo de um incidente nuclear é baixo. Ainda que a central de Zaporizhzhia tenha sido tomada pelo exército russo, Pedro Ferreira explica que continua a ser operada pela equipa de trabalhadores habitual. “A Agência Internacional de Energia Atómica tem emitido comunicados em que considera, com algumas preocupações e reservas, que não se está numa situação de perigo”, refere.  

Quando questionado sobre a possibilidade de estarmos perante a ameaça de uma guerra nuclear, o docente é perentório: “não de todo”. “Todas as acções militares têm sido com forças convencionais. A presença de reactores nucleares, e a sua tomada pelo exército russo, não pode ser interpretada como uma tentativa de usar armas nucleares, antes sim um objetivo estratégico”. Pedro Ferreira explica que a Central de Zaporizhzhia assegura 25% do absatecimento energético da Ucrânia, o que justifica a importância para o seu controle.

 

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Pedro Ferreira na CNN

 

Na comunidade científica, nomeadamente quanto aos colegas russos, dos poucos contactos que tem tido, Pedro Ferreira refere haver muitos que se opõem à invasão da Ucrânia. Refere mesmo ter sido assinada uma carta por centenas de cientistas de nacionalidade russa, com uma declaração contra esta guerra. “Mas haverá muitos outros, imagino, que a apoiam, um reflexo de divisões na sociedade russa”, diz o investigador.

Numa altura em que se fala tanto da dependência do petróleo e das consequências ambientais que acarreta, o docente do ISEL, explica que a energia nuclear é um tipo de energia, em que as emissões de carbono são, “manifestamente, inferiores às da energia obtida com combustíveis fósseis”. No entanto, o Físico, explica, tratar-se de uma energia que “acarreta a produção de resíduos radioativos, que têm de ser armazenados em segurança durante milhares de anos”. Isto significa que, em caso de acidente nuclear, “as consequências para o meio ambiente podem ser graves”. Por tudo isto, Pedro Ferreira não consideraria a energia nuclear como uma “energia verde, com a ressalva que todas as formas de produção energética têm uma pegada de carbono associada”.

Pedro Ferreira é especialista no funcionamento de reatores nucleares. Licenciado em Física, pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, tem mestrado em Altas Energias e Gravitação, e doutoramento em Física de Partículas Teórica, pela Universidade de Liverpool. Passou por Génova, Dublin e novamente pela Faculdade de Ciências, para obter os três pós-docs. Está há 15 anos no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, no Departamento de Física, onde ensina Mecânica, Termodinâmica e Eletromagnetismo, Física Médica e Energia Nuclear. Esta última unidade curricular é lecionada no ISEL desde 2009.

Texto de CSS/GCI IPL
Imagens: Observador e CNN