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23.03.2022
Filipe Oliveira

É um dos docentes mais antigos a exercer funções no Politécnico de Lisboa. Começou, em 1982, como Assistente Convidado da Escola Superior de Teatro e Cinema, quando esta ainda estava em regime de instalação. É engenheiro de formação, mas ensina estudantes do curso de Cinema a olhar para o Som de uma outra forma. Transmite aos estudantes de Artes, o que de melhor sabe sobre Ciência.

Formado em Engenharia Electrotécnica, ramo Telecomunicações e Electrónica, pelo Instituto Superior Técnico, era nesta instituição, mais concretamente na Linha Acústica do Centro de Análise e Processamento de Sinais do Complexo, que trabalhava, quando foi convidado para dar aulas, como Assistente Convidado no Conservatório, no curso de Cinema. Foi o cineasta Eduardo Geada, quem o entrevistou, e a ideia era conseguir um engenheiro que desse uma outra visão mais científica à área de produção de Cinema. “Eles tinham profissionais, mas queriam uma pessoa mais ligada à investigação”, refere.
 
Ainda que dando aulas em regime de acumulação, “quase um part-time”, ainda hoje, sente ter sido um “um desafio giríssimo”. Em 1993 passa a Professor adjunto e no ano seguinte é eleito presidente do Conselho Diretivo da Escola Superior de Teatro e Cinema, ainda no Bairro Alto, cargo que exerce de 1995 a 1997 e mais tarde, já na Amadora, entre 2007 e 2010. Sobre esta experiência de gestão, diz tê-lo feito sempre em parceria. “Talvez com um “espírito mais abrangente”, adianta, ressaltando que “sempre tive um grande apreço pela visão dos meus colegas”.
 
Com o Politécnico de Lisboa sempre teve um contacto muito próximo e sempre sentiu grande apoio. “As presidências do IPL sempre acarinharam muito o ensino artístico”. Na sua perspetiva, as Instituições de Ensino Superior com a componente artística tinham “uma maior implantação social e mais prestígio”. “
 
Quando questionado sobre o que distingue os estudantes de hoje e de outros tempos, o professor faz o paralelismo com a evolução da sociedade. “Passaram a ter possibilidade de se concentrar nos seus objetivos, quer artísticos, quer sociais e, por isso, o estudante hoje em dia está culturalmente muito mais evoluído”, refere. Pelas suas aulas já passaram alunos, na área de Cinema, tais como Rui Reininho e David Fonseca, que ainda com interesses na área da Música, viam no Cinema uma forma de complementar a informação que sentiam de expressão artística.

 

 

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Filipe Oliveira
Filipe Oliveira, na ESTC, em 2008, altura em que era o presidente

Recorda alguns comentários “simpáticos” de alguns alunos. Reconhece que nem sempre se dá conta de que forma marca os alunos. Só quando o abordam e fazem referências a uma certa perspetiva que “ingenuamente era o que pensava” e os alunos valorizaram muito, nomeadamente ao nível do Som no Cinema.
 
Espera ter despertado os estudantes de Cinema para determinadas questões do Som e da narrativa associada a este. “Se compararmos os cineastas mais intemporais, como Hitchcock e Spielberg, há uma diferença colossal e não são só os meios técnicos, é a utilização da construção sonora para a narrativa”, diz Filipe Oliveira. Sobre esta maior relevância do Som, recorda uma aluna, Joana Niza Braga, que fez parte da equipa técnica da reprodução de efeitos sonoros, de "Free Solo" do National Geographic, vencedor de um Óscar e um Bafta de Melhor Documentário de 2019.
 
Com 68 anos, acabados de fazer, está bem na Escola, está atualizado, e diz sentir sente um grande afeto dos colegas. “Poderia ir até aos 70”, referindo-se à aposentação. Confessa que a pandemia alterou a forma como encara a vida. Inicialmente pensava reformar-se mais cedo, mas hoje sente que está muito mais limitado e que é interessante continuar. Garante que, “os alunos são muito concentrados e bons alunos. Quem escolhe estes cursos tem, para além de capacidades, interesses nesta área e motivação e isso faz toda a diferença para um professor”.

 

 

Texto de: CSS/GCI IPL
Fotos de: Gab. Com ESTC