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11.05.2020
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Investigadores e docentes da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (ESTeSL), com um médico oncologista dos hospitais CUF e um estudante finalista de medicina da Universidade de Lisboa, em parceria com hospitais públicos e privados portugueses, vão estudar a relação entre o microbioma de doentes infectados pelo Covid-19 e a gravidade dos sintomas.

“Porque razão alguns doentes infetados com COVID-19, ficam em casa, quase assintomáticos, ou com uma ligeira tosse ou febre, e outros são internados nos cuidados intensivos?” Uma das respostas à pergunta pode estar nos milhares de bactérias, vírus e fungos que habitam o nosso intestino, algo que é denominado microbiota e que difere de indíviduo para indivíduo. A hipótese de que a microbiota intestinal possa estar associado à gravidade dos sintomas de doentes infetados faz parte da investigação que vai ser desenvolvida nos laboratórios da ESTesL, através da análise de amostras fecais, com recurso à técnica de Next Generation Sequencing[1], a 4 grupos distintos: grupo de controlo dos não infetados; infetados Covid-19 com sintomas ligeiros; infetados Covid 19 com sintomas mais graves e os já recuperados da doença.

 

Grupo investigadores estesl

 

Com um financiamento do Politécnico de Lisboa no valor de 35 mil euros, prevê-se que o estudo, numa fase inicial, seja aplicado a 150 pacientes de vários hospitais públicos e privados da região de Lisboa.

Para Miguel Brito, docente da ESTeSL e coordenador da investigação, “os principais objetivos deste estudo são tentar perceber se existe uma composição da microbiota “mais resistente” à infeção por SARS-CoV-2, tentar no momento do diagnóstico, compreender se o doente terá sintomas mais leves ou mais agressivos, permitindo uma triagem mais eficiente, com uma melhor gestão dos cuidados de saúde hospitalares." O investigador em genética humana acrescenta ainda que "queremos tentar compreender se existe uma relação entre a vacinação, a composição microbiótica e a gravidade dos sintomas, assim como se as alterações que encontrarmos na microbiota, são compatíveis com as alterações encontradas noutras infeções respiratórias virais, como a gripe comum causada pelo vírus influenza. Adicionalmente, será possível comparar as modificações que descobrirmos nos doentes COVID-19, com modificações encontradas noutras doenças e assim, percebermos quais as sequelas, após a recuperação da infeção por SARS-CoV-2".

Miguel Brito,Estesl

Após a caracterização da microbiota intestinal existe a possibilidade de podermos manipulá-la “através de prebióticos e/ou probióticos ou pela alimentação ou, em última instância, transplante de fezes” refere Miguel brito, investigador de genética humana.

O estudo, ao permitir prever a evolução da doença, quanto à gravidade dos sintomas, vai contribuir para uma rápida e eficaz resposta dos cuidados de saúde no tipo de acompanhamento dos pacientes e, também para uma melhor decisão terapêutica, permitindo encaminhá-los para o domicílio ou definir se necessitam de cuidados hospitalares.

Prevê-se que a investigação tenha início no final do mês de maio, após aprovação dos Conselhos de Ética.

 

Grupo investigadores estesl

A equipa liderada por Miguel Brito, coordenador da área da Genética Humana na parte referente no projeto, e investigador principal responsável pela parte de sequenciação, é constituída por quatro investigadoras e docentes da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa e um médico oncologista dos Hospitais Cuf e por um estudante finalista de medicina da Universidade de Lisboa.

Mariana Delgadinho, bolseira de investigação na ESTeSL, vai ter a seu cargo a parte laboratorial, nomeadamente as técnicas de extração de DNA, quantificação e sequenciação de nova geração (NGS). A recolha e processamento das amostras e apoio laboratorial vai ser da responsabilidade de Edna Ribeiro, professora da área das análises clínicas e saúde pública. O tratamento e análise dos dados provenientes de Next Generation Sequencing  (NGS) e dos questionários vai ser responsabilidade de Carina Silva docente na unidade de Ensino e Investigação de Matemática e Física.


Grupo investigadores estesl

A docente Vanessa Mateus, de Farmacologia, vai analisar a relação do perfil de microbioma com o desenvolvimento, prognóstico e resposta a farmácos na COVID19.

O médico Diogo Alpuim Costa, do Hospital da CUF, e o estudante Guilherme Nobre da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa vão fazer a ponte entre o laboratório e o vários hospitais envolvidos e participar nas várias etapas do estudo.

Texto e fotos de VG/GCI-IPL

Media

 

 

 

 

 

 

 

[1] A “Next Generation Sequencing” (NGS) (Sequenciação de próxima geração) é uma tecnologia de ponta que permite numa única experiência, a determinação da sequência de moléculas de DNA com tamanhos superiores a 1 milhão de bases (1Mbp) podendo sequenciar o genoma total de um indivíduo, ou regiões específicas.