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28.03.2018
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Há quanto não tempo folheiam um jornal diário? Foi a pergunta lançada por Francisco Sena Santos, jornalista e professor, aos muitos estudantes sentados na plateia do Auditório Vítor Macieira, na Escola Superior de Comunicação Social, para assistir à conferência "A Sustentabilidade dos Media em Portugal", realizada a 21 de março. Refletir sobre o setor da comunicação social, em contexto nacional, foi tema em debate, na iniciativa promovida pela ESCS, com um painel de profissionais reconhecidos do setor.

Conferência Sustentabilidade dos Media em Portugal

António Casanova, presidente da APAN (Associação Portuguesa de Anunciantes), Bruno Lima Santos, diretor geral de Antena e Programas da TVI, João Epifânio, administrador da Altice, José Carlos Lourenço, chief operating officer do Global Media, Nuno Artur Silva, autor, produtor e administrador cessante da RTP e Pedro Norton, administrador da Gulbenkian, deram a conhecer a visão e percepção que cada um tem do setor, na área em que atuam e falaram do que pensam ser o futuro. No painel, os temas abordados foram desde o jornalismo, à publicidade, telenovelas, futebol, séries e redes sociais.

Com uma plateia constituída, maioritariamente, por estudantes de comunicação, Francisco Sena Santos, professor de jornalismo na ESCS, anfitriã da conferência, começou por ressaltar que, na ESCS é cultivado, "o pensar, o trabalhar as artes e os componentes técnicos e tecnológicos", ideia reforçada por Jorge Veríssimo, que caracterizou a instituição a que preside como um "projeto educativo diferenciador".

Conferência Sustentabilidade dos Media em Portugal

Os convidados da conferência, concordaram que algo está a mudar na comunicação, e que "ninguém tem a fórmula mágica para reinventar o setor", como frisou Pedro Norton. "A comunicação social tem outra relevância para a democracia que não têm outras atividades", continuou. Nuno Artur Silva, completou o raciocínio ao afirmar que "a dinâmica dos Estados deve ser feita, do ponto de vista legal, para que as sociedades tenham a diversidade necessária no jornalismo".

A conversa alternou entre o setor privado e o público, sendo o administrador cessante da RTP, várias vezes confrontado com frases mais acesas, no que respeita às opções estratégicas de programação do canal público, nomeadamente quanto à compra dos direitos de transmissão de jogos de futebol. Nuno Artur Silva deixou claro que o objetivo da RTP não é ter audiência, mas sim, "dar aos portugueses aquilo que os outros não dão", porque não depende de receitas comerciais", opção considerada por Bruno Lima como um "caminho para a irrelevância". Alvo de opiniões menos favoráveis foi também o administrador da Altice, João Epifânio, cujo negócio da compra da TVI é visto por muitos como um cenário indesejável e que vai levar ao realinhamento no mercado.

[caption]Conferência Sustentabilidade dos Media em PortugalBruno Lima, TVI e João Epifânio, Altice[/caption]

Uma conclusão ficou, bem, patente nas várias intervenções, no futuro, os media vão passar pelos conteúdos pagos, ainda que, no caso da Global Media, representada por José Lourenço, a estratégia atual seja apostar em conteúdos livres. Numa altura em que os jovens procuram conteúdos à sua medida em canais como a Netflix, que estreia uma média de 2 séries por dia, em detrimento da televisão, os conferencistas concordaram, que uma das possíveis mudanças passa pela aposta na produção de boa ficção. 

No campo do jornalismo, os meios digitais estão a ganhar avanço à imprensa, tida como romântica, onde a atualidade não é imediata e, que por isso, não consegue competir com os meios digitais. Quem o diz é Nuno Artur Silva, para quem não se faz jornalismo de investigação suficiente, recorrendo ao jornalismo de agência, em alternativa. Ainda assim, o COO da Global Media, José Lourenço, adiantou que, na sua opinião, "o jornalismo nunca foi tão importante para a sociedade como é hoje, no meio das fake news que causam dúvidas nas pessoas. As pessoas refugiam-se no que confiam e isto é bom para o jornalismo".

[caption]Conferência Sustentabilidade dos Media em PortugalJosé Lourenço, Global Media, Nuno Artur Silva, RTP e Pedro Norton, Gulbenkian[/caption]

Afinal para onde vamos? Questão que levou à temática das redes sociais, em que os GAFA (Google, Apple, Facebook e Amazon) promovem, segundo o administrador da Altice, uma assimetria entre os players e a Europa, em que trabalham com legislação e regras fiscais diferenciadas, e em que não existe uma única empresa europeia presente neste grupo? "A Europa está a demitir-se de ser competiviva o que contamina uma série de outras indústrias", foram algumas das preocupações expressas por João Epifânio. O administrador alertou para proximidade da entrada em vigor do novo regulamento europeu da proteção de dados que vai limitar ainda mais a ação dos media.

[caption]ministro da Cultura ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes[/caption]

Várias novidades surgiram, no âmbito da conferência. Por um lado, ficámos a saber, por António Casanova, que, a prazo, podemos esperar o surgimento do canal Observador. Por outro lado, no encerramento, o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, afirmou, no seguimento do convite feito ao jornalista Nicolau Santos, que a Lusa passa “a ter uma liderança capaz de levar o seu projeto adiante”, o governante salientou que a agência noticiosa tem “uma estratégia clara e definida”.

Texto de CS / GCI
Imagem de MN / GCI